17 de maio de 2010

Ásana para quem quer perder a postura


Nessa vibração relativa tão estranha da qual estamos todos sendo psicologicamente e emocionalmente afetados, quantas vezes não gostaríamos de "perder a pose"? Sair chutando o balde, rodar a baiana, subir nas tamancas? E tão difícil praticar ahimsa com as palavras, ações, pensamentos...

Pare e respire até 10 profundamente...

Lembra que todos nós vivemos quotidianamente o desafio de situações delicadas, que requer muita paciência, tolerância e mudanças as vezes radicais de valores. "E aí, passamos então a engolir tudo?" Não, outra saída seria silenciar descansando seu corpo físico (annamayakosa) e mental (manomayakosa).

O yoga tem nos mostrado que podemos sim perder a postura: a postura da arrogância, de não aproveitar o momento e entrar para dentro - não para se esconder do mundo - mas para encontrar meu mundo e saber onde foi que eu errei. Não o velho "onde foi que eu errei?" numa auto piedade sem fim, achando que você é o culpado por ter errado o alvo, mas falo do novo "minha parcela de erro nesse caminho que eu mesmo decidi tomar e que por outras razões não fluiu conforme desejado".

Algumas posturas restaurativas irão fazer com que você se entregue sem ao menos perceber que seus sistemas estarão trabalhando para tal. Seu corpo sutil irá aos poucos se reequilibrar e vai cair aquela lágrima no canto do olho esquerdo, relaxando seu lado racional. E lá estará o tão sonhado pedido do seu Eu para você mesmo: "Expira, entrega, afrouxa, relaxa" praticando Isvara Pranidana. Estamos falando de Supta Badha Konasana.

Uma das principais posturas da Yoga Restaurativa, na sua variação com bolster nas costas conforme a foto, coloca a coluna numa posição neutra ou numa pequena extensão para gentilmente abrir seu peitoral e soltar sua respiração. Você pode inclusive fazer a postura na sua própria cama ou no chão da sua sala.

Execução
Pegue um almofadão ou seu travesseiro, coloque no chão e deite de costas sobre ele. Abra os joelhos de forma com que a planta dos seus pés se toquem. Faça um rolinho com duas mantas e apoie sob seus joelhos, para relaxar a abertura do seu quadril. Eu sempre aconselho manter seus braços confortáveis, usando uma almofadinha extra para que sua pele não toque diretamente o chão, no caso do mat. Um eye pillow, o travesseirinho nos olhos, é como colocar um laço no presente.

Abra bem os ombros, solte as escápulas. Não faça força, nada de musculatura tensa: entrega, confia, aceita, agradece, como diz o querido Professor Hermógenes. Inspire naturalmente e extenda sua exalação, deixando o ar sair sem pressa. A cada ciclo de respiração, vizualize seu corpo todo se entregando, soltando seu peso sobre a almofada.

Equlibrando os dosas
Com um olhar ayurvédico, temos uma ótima opção para acalmar o sistema nervoso dos três doshas, mais especificamente de Pitta, deixando Vata menos agitado e kapha elevando o peito literalmente praquilo que ele sente dificuldade em mudar. Nesse caso, se você for utilizar as posturas para diminuir um dos elementos no seu corpo, sugiro o seguinte as seguintes variações.

Para Pitta, deite o bolster sendo apoiado por dois blocos,: um na altura total e outro na altura média, para que a postura seja alta, e envolva ar ao redor dela. Não use mantas quentes nem nada que possa trazer alergia de pele. Permita que os braços toquem o chão e utilize uma música bem calma, com volume bem baixo. Um tempo conveniente seria de 5-8 minutos, pois a postura como essa que deixa o Pitta "desprotegido", pode acabar gerando ansiedade, pois o Pitta não gosta muito de perder o controle das situações. Se entregar então, mesmo que no intuíto da cura, mais delicado ainda. O foco aqui é acalmar o sistema nervoso. Tempo: até 10 minutos.

No Vata o quadril é uma área primária de vata no corpo - bem importante que nessa postura de abertura pélvica, joelhos estarem devidamente apoiados por mantas. Um saquinho de areia é bem vindo na área do estômago, pois equilibra samana vayu. Se os pés tiverem frios, utilize outra manta menor nos pés. Eleve os antebraços, que devem estar soltos ao longo do corpo, com uma almofada menor e coloque um eye pillow na palma de cada uma das mãos. Utilize a variação sem os blocos debaixo do bolster. Deixamos o vata mais aquecido, mais seguro, mais perto do chão. E nada de música: vata precisar voltar para o presente. Tempo: 20 minutos.

No caso de Kapha, muita atenção para que a postura não vire o melhor sonho profundo do ano! Kapha tem facilidade em relaxar, esse não será o problema, mas também não cabe aqui posturas que o desafiem fisicamente. O foco é nos benefícios através do vata desequilibrado em Kapha, relaxando o sistema nervoso. Utilize aqui a variação com a cinta para apoiar quadril e coxas, ao invés de mantas debaixo dos joelhos. O pesinho aqui é bem vindo nos pés e um eye pillow na testa. Tempo. 15 minutos.

Lembre-se sempre: numa prática restaurativa, nada de desafios! Já basta aquele que levou você a querer praticar essa postura. O importante é seu conforto e manter o corpo numa temperatura agradável, o que significa, zero tensão muscular, zero esforço físico. "Só assim, explica Judith Lasater, seu Sistema Nervoso Autônomo encontrará condições para liberar os hormônios do relaxamento". E com uma cuca mais fresca, discernimento para entender o momento.

E aqui fica a pergunta: O que seria do mundo se todo dia nós agendássemos um encontro com nós mesmos? Um encontro onde o ego não está convidado?

Texto originalmente publicado no site do Centro de Medicina Indiana do RJ/ Maio 2010

Um comentário:

  1. Ameiiii só de ver as fotos ja da vontade de praticar!!! sucesso pra ti mana que Deus te ilumine a cada dia :)

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