28 de novembro de 2014

Estresse na idade adulta: Breve parecer sobre estresse, distresse e carga alostática com suas repercussões psicofisiológicas na idade adulta




(Artigo desenvolvido por Miila Derzett para estudo em
Desenvolvimento Humano IV – Psicologia, Unisantos 2014

Importante, antes de comerçarmos a pensar em estresse como um monstro causador de doenças na idade adulta, compreender as erratas que surgem a partir de uma construção no senso comum. Em 1916, o fisiologista norte-americano Walter Cannon apresenta pela primeira vez o termo estresse num artigo publicado na revista Nature, no intento de elucidar uma resposta fisiológica comum de emergência dos seres vivos, contida na sua hoje clássica, teoria de luta-ou-fuga. Em 1932, o mesmo autor denomina de homeostase a capacidade do organismo em preservar um conjunto de mecanismos regulatórios que mantém a constituição do seu meio interno dentro de limites adequados para a sua sobrevivência que pode ser rompido em situações estressantes, como hipoglicemia, um leão correndo para nos atacar ou o tráfego congestionado de São Paulo.

Hans Seyle em 1936, corroborou com Cannon, mas ampliou a concepção de estresse classificando-a em três fases distintas: 1) Alarme, quando o organismo reage instintivamente a um agente estressor qualquer na resposta de luta-fuga e rompe a sua homeostase; 2) Adaptativa, manifesta no momento em que organismo gera uma resposta satisfatória e “equilibra” novamente seu estado homeostático; e 3) Crônica, um estado em que a resposta fisiológica ao agente estressor não é suficiente ao organismo retomar seu estado homeostático. Segundo Seyle, seria somente na terceira fase (a crônica) em que o estresse, como resposta orgânica natural, poderia refletir negativamente sobre a saúde do organismo, por diminuir a ação do sistema autoimune (DANUCALOV & SIMÕES, 2009, p.114-121).

Assim, o estresse biológico é um estado absolutamente normal e neutro (nem bom ou ruim), muitas vezes benéfico para a manutenção da vida. Entretanto, a permanência do sentido de alerta (e toda a sua química) acionado por tempo prolongado em situações extenuantes, seja pelo medo de um trovão ou de um pensamento intruso, é bastante desvantajoso a saúde. O terceiro estágio do estresse (estado crônico ou agudo) causa um desequilibrio orgânico ocasionando sérios problemas ao nosso sistema auto-imune.

Após compreender o conceito de estresse, suas fases e sua importância, fica claro que é somente a partir de um organismo sobrecarregado, ou afetado por uma carga alostática – intensos esforços em manter a alostasis sem sucesso – que podemos adoecer pela ação do estresse efetivamente. A esse processo chamamos de distresse.

As alterações neuroquímicas criadas pelo estresse agudo promovem adaptação e sobrevivência através de respostas dos sistemas neurais, cardiovasculares, autônomas, imunológicas e metabólicas. O estresse crônico pode promover ou ainda intensificar biopatologias através dos mesmos sistemas que desrregularam. O resultado dessa “fricção” sem retorno ao nível basal do organismo acaba incitando mudanças comportamentais pessoais - fumar, comer demais, ingerir bebidas alcóolicas em excesso, pobre qualidade do sono – o que hoje chamamos de “estilo de vida” (McEWEN, 2008).

Mudanças significativas ocorrem tanto no campo emocional quanto comportamental como consequência desse quadro. Agentes estressores como, por exemplo, assuntos de ordem financeira, familiar ou pressão social, acabam gerando um processo que altera também nosso organismo em nível celular, alterando a biologia celular. No processo metabólico acessado descontinuamente, as células necessitam de mais e mais oxigênio, gerando assim o que a ciência chama hoje de estresse oxidativo, abrindo as portas para uma maior vulnerabilidade à doenças genéticas (BENSON & FRICCHIONE, 2014).

A pesquisadora do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Califórnia, Elissa Epel e seu grupo, investigam a hipótese que o estresse agudo pode vir a ser responsável no impacto à saúde, modulando negativamente as taxas de envelhecimento celular, quando da diminuição dos complexos protéicos chamados de telomeres, promovendo instabilidade no DNA humano (EPEL et. Al., 2004, p. 17312).

Observa-se então, que na idade adulta, o agente estressor pode estar intimamente ligado a sintomas psicológicos como humor constantemente negativo ou emoções como medo e ansiedade que podem ser os responsáveis por sintomas físicos negativos e comportamentos nefastos, criando ainda mais estresse ao indíviduo. Os pensamentos inconscientes, como padrões, crenças e conclusões “automáticas” são também pensamentos que levam ao estresse. Numa situação simples, como a espera numa sala de um consultório médico e um breve atraso deste, a respiração já fica encurtada, as palmas das mãos começam a suar, coração se acelera, pode surgir sentimentos de raiva, frustração e comiseração com “pensamentos automáticos” como, “isso só acontece comigo”, “por causa desse médico que tenho pressão alta”. Esse complexo sistema biopsicossocial podem conduzir a um evidenciando ciclo negativo que conduz ao ciclo do estresse até a sua cronicidade.

Os relacionamentos sociais também são considerados de grande importância para melhorias em todos os aspectos na saúde integral do indivíduo, como atesta os estudos sobre psicobiologia e genética molecular da resiliência de Adriana Feder e sua equipe de pesquisadores do departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina Mount Sinai, em Nova York.

Por muitos anos as pesquisas sobre resiliência focaram em identificar os determinantes psicossociais da resistência ao estresse, como emoções positivas, capacidade de auto-regulação, competência social e um laço afetivo forte nos primeiros anos de vida com pais ou cuidadores (FEDER et. Al., 2009).

Como reconstituintes de uma saúde mais equilibrada, pesquisadores do Benson & Henry Mind-Body Institute, do Hospital Geral de Massachusets, Boston, criaram a teoria da resposta do relaxamento, que constitui mais de 40 anos de pesquisa em todas as áreas da saúde envolvendo testes entre praticantes de alguma técnica de relaxamento e grupos controle, resultando em artigos publicados em revistas como Science (1982 “Reduced Sympathetic Nervous System resposivity Associated with the Relaxation Response”), National Institute of Health (“Min-Body medicine”, Dusek & Benson) e PlosOne (“Genomic counter-stress Changes induced by the relaxation response” Dusek, et. Al., 2008) envolvendo pesquisadores como a psiquiatra Sara Lazar (“Functional Brain Mapping of the relaxation response using 3T fMRI”).

A medicina Mente-Corpo é uma proposta de auto-cuidado da medicina psicossomática, criada no intuito de reduzir o estresse e edificaer maior resiliência, promovendo a saúde e prevenindo o adoecimento. Dentre os programas sugeridos no instituto está o R3P - Relaxation Response Resiliency Program; neste programa protocolar, indivíduos em tratamento (ou seus cuidadores) contra doenças como câncer e cardiopatias, recebem consultas em medicina integrativa e aplicação de técnicas de relaxamento (com efeitos demonstrados cientificamente como diminuição do consumo de oxigênio, aumento da liberação de CO2, diminuição da pressão sanguínea, baixo metabolism e alta imunológica), meditação, terapia cognitivo comportamental, apoio social e comportamento pró-social, expectativas positivas, fé e espiritualidade, exercícios e mudanças nutricionais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aguarde. Sua mensagem será postada em breve!

Atenção: não permitimos comentários que agridam ou ofendam pessoas, instituições, organizações governamentais, entre outros.